sábado, 3 de janeiro de 2009

O Sétimo Selo

Ingmar Bergman descansava feliz na sombra da pitangueira à beira do arroio Pulador quando a Morte se fez presente. Não conhecia a sina parecida de seu homônimo sueco, era um teuto-ibirubense na flor de seus 40 anos, mas por uma dessas coincidências que só a literatura (ou o cinema) é capaz ele propôs à Morte um jogo, uma partida de canastra (não, o nosso Ingmar não sabe jogar xadrez) para distraí-la a fim de ganhar algum tempo a mais de vida. A morte não titubeia e aceita. Logo se vão à cata do baralho.
O caminho para a casa parecia propositadamente tortuoso e demorado, e a Morte como não é boba, foi logo achando a picada certa. Chegando à mesa, o gentil Ingmar oferece uma rodada de mate doce à Morte, que gentilmente aceita e regojizasse com um pedaço de cuca de pêra. Feito isso vão-se à mesa, Ingmar engole em seco, embaralha e quando pede à Morte pra cortar tem aquele terno olhar que os condenados tem antes da forca. Ao contrário das vezes em que desejava surpreender e ganhar rápido dos adversários, Ingmar faz de tudo pra prolongar a partida. Não importa o ganhador, só há uma certeza, no final a Morte ceifará o nosso amado Ingmar.
A morte bate. Ingmar vê mais um degrau da sua vida desaparecer, ele exclama.
-Pega, o morto é teu! Além de perder a vida, Ingmar corre o risco também de perder a partida.
Subitamente a Morte pega o morto e se vai, com aquele ar de dever cumprido. Ingmar sorri com aquela astúcia que só os teuto-ibirubenses tem e pondera: - Fiquei com a vida, mas vou ter que comprar um baralho novo. Mal sabia ele que os quatro coringas estavam no morto.